Quando queremos comunicar, quer seja verbalmente, quer seja visualmente, temos em consideração uma série de elementos que, ora individualmente, ora combinados, dão origem a composições que transmitem a nossa mensagem. Às vezes uma frase, outras vez um conjunto delas; uma palavra, uma letra, uma interjeição, um mero ruído... Cada uma destes elementos básicos da comunicação verbal/escrita funcionam como veículo de expressão. Também na comunicação visual se podem destacar uma série de elementos básicos, a partir dos quais se estruturam as mais variadas composições. "
Sempre que alguma coisa é projectada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos"(Ref. 1): o ponto, a linha, a forma, a direcção, a tonalidade e a cor, a escala, o movimento, o volume e perspectiva - dimensão, a textura. Ainda que poucos, estes elementos, que constituem a substância básica daquilo que vemos, são a matéria-prima de toda a informação visual.
O
ponto é a unidade básica da comunicação visual. É o elemento mais simples. A forma arredondada é a forma mais comum na natureza. Quando qualquer material líquido é vertido sobre uma superfície, assume uma forma arredondada, mesmo que esta não simule um ponto perfeito. Um círculo simboliza perfeição e igualdade espiritual. Tudo é igual em relação ao seu centro: não há nada mais alto ou mais baixo, ou à esquerda ou à direita de algo.
Quando fazemos uma marca pensamos nesse elemento visual como um ponto de referência ou um indicador de espaço. Qualquer ponto tem grande poder de atracção visual sobre o olho.
Por outro lado, dois pontos são instrumentos úteis para medir o espaço. Desde cedo aprendemos a usar o ponto como sistema de indicação. Quanto mais complexo um projecto visual, mais pontos utilizamos como referência espacial.
O conjunto de pontos é capaz de direccionar o olhar e nos criar a ilusão de tonalidade ou cor.
GEORGE SEURAT - SEINE AT GRANDE JATTEEsta capacidade de conduzir o olhar é intensificada pela proximidade dos pontos. Quando eles estão tão próximos entre si que não é possível identificá-los individualmente, o conjunto de pontos transforma-se num outro elemento visual: a
linha.
A linha é um ponto em movimento. Fazer uma linha consiste, no fundo, em arrastar um ponto segundo uma determinada trajectória, de modo a criar uma nova imagem, um nova mensagem. Ela é, portanto, em toda a sua natureza, um elemento inquieto, nunca estático, com imensa energia. A linha permite a concretização daquilo que arquitectamos na nossa imaginação e por ser linear e fluída reforça a liberdade de expressão. Por outro lado, a linha é decisiva, tem um propósito e direcção, faz algo de definitivo.
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A linha, assim, pode ser rigorosa e técnica, servindo como elemento fundamental em projectos diagramáticos de construção mecânica e de arquitectura, além de aparecer em muitas outras representações visuais em grande escala ou de alta precisão métrica. Seja ela usada com flexibilidade e experimentalmente, ou com precisão e medidas rigorosas, a linha é o meio indispensável para tornar visível o que ainda não pode ser visto, por existir apenas na imaginação." (Ref. 1)
A linha descreve uma
forma. Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma. Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem as suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através das nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas.
Ao quadrado associam-se a honestidade e a rectidão; ao triângulo a acção, o conflito, a tensão; ao círculo a perfeição, a protecção. Todas as formas básicas são figuras planas e simples, fundamentais, que podem ser facilmente descritas e construídas.
Todas as formas básicas expressam três
direcções visuais básicas e significativas: o quadrado, a horizontal e a vertical; o triângulo, a diagonal; o círculo, a curva. Cada uma destas direcções tem um significado e é importante para a criação de mensagens visuais. A direcção horizontal/vertical traduz estabilidade; a diagonal, pelo contrário, faz referência à instabilidade; a curva, por sua vez, como aliás já foi aqui explicado, remete para a abrangência, a perfeição e a repetição.
Tudo o que vemos é condicionado pela presença ou ausência de luz e, como esta não se irradia com uniformidade no meio ambiente, recebemos a informação visual de diferentes
tonalidades e
cores. "
Na natureza, a trajectória que vai da obscuridade à luz é entremeada por múltiplas gradações subtis, que são extremamente limitadas nos meios humanos de reprodução da natureza, tanto na arte quanto no cinema." (Ref. 1). Só na Natureza podemos observar a tonalidade como ela é: condicionada pela verdadeira luz. As representações gráficas são meras simulações que ficam muito àquem da diversidade dos tons e cores naturais.
A tonalidade é um importante instrumento de reprodução das dimensões. A linha, usada em perspectiva, é o principal método de criação de dimensões, mas ela, por si só, não dá a ilusão conveniente da realidade - o tom é o elemento adicional que confere credibilidade à mensagem dimensional.
Existem três cores primárias: amarelo, magenta e azul. Cada uma apresenta qualidades distintas e pode ser associada a uma série de concepções: o amarelo é a cor mais próxima da luz, do calor; o vermelho é a cor activa, a mais emocional; o azul é a cor fria, passiva, a mais suave. Quando estas cores são sujeitas a combinações e misturas, dão origem a novas cores, com novos significados, novas representações da realidade.
Uma cor pode ser brilhante ou apagada, uma tonalidade pode ser escura ou mais clara, "
o grande não pode existir sem o pequeno" (Ref. 1) e é no seguimento desta ideia que surge um outro elemento: a
escala. A escala pode ser estabelecida não só através do tamanho do objecto, mas também da sua relação com o campo visual. Este elemento tem como base a proporção: quer entre os objectos representados, quer em relação à realidade.
O
movimento, no seu sentido literal, e em termos de comunicação visual, só existe no cinema ou na televisão. Um quadro ou uma fotografia são estáticos. Contudo, o artista pode criá-los de maneira dar a ilusão de movimento. A Natureza é movimento constante e, como tal, a nossa percepção das representações dessa realidade leva-nos a identificar esse movimento natural, mesmo naquilo que é estático.
Tudo na comunicação visual depende da ilusão. Através da linha, cor e tonalidades, como já referi, criamos a ilusão de
volume,
prespectiva, a noção de
dimensão. A dimensão existe no mundo real, mas tal como todos os outros elementos, ela não passa de uma ilusão nas representações gráficas de comunicação visual. O artista recorre aos elementos básicos mais simples e constroi mensagens complexas que levam a nossa imaginação a ver mais do que linhas e traços simples sem significado.
Os nossos sentidos são captados por estes elementos e transportam-nos para a realidade da mensagem. A
textura é o elemento que, frequentemente serve de substituto ao tacto. A nossa visão capta as diferentes texturas e associa-as a texturas reais, presentes na memória, atribuindo-lhe um forte significado associativo. "
O aspecto da lixa e a sensação por ela provocada têm o mesmo significado intelectual." (Ref. 1) Ainda assim, esta experiência singular que advém apenas da observação, não se pode considerar objectiva. O julgamento do olho costuma ser confirmado pela mão. "
É realmente suave ou apenas parece ser?" (Ref. 1)
A textura reforça a sensibilidade com que captamos a mensagem visual. Atribui-lhe credibilidade, ainda que a experiência táctil não seja completa.
Todos estes elementos são utilizados pelo artista na sua tentativa de representar uma realidade. A frequência dos elementos, a forma como eles são utilizados... tudo são decisões de quem quer comunicar e devem ser tomadas de acordo com a mensagem que quer transmitir. O pleno conhecimento do significado de cada um destes elementos permite um controlo sobre a construção e aquilo que ela transmitirá. Ainda assim, todos somos diferentes e a percepção de cada um dependerá da sua personalidade e das suas sensações.
Uma coisa é comum: a comunicação permite o viver de uma experiência visual. Podemos, se nos permitirmos a tal, entrar no mundo criado pelo artista e descobrir cada detalhe daquilo que compôs. A arte é um bem. Ela é o caminho para o desenvolver da nossa criatividade, quer de criação, quer de percepção.
REF. 1 - DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 51-83