quarta-feira, 24 de março de 2010

A forma visível da linguagem

A tipografia é a "arte de dispor correctamente o material de imprimir" (Stanley Morrison). Muitas vezes, o tipo de letras, a forma como trabalhamos uma determinada palavra, uma determinada frase, ajuda na compreensão da informação. Existem elementos que são capazes de substituir o valor semântico de uma palavra.

A segunda proposta de Desing de Comunicação Visual exige que tentemos associar a cada um dos heterónimos de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis - uma composição tipográfica.

Na primeira fase de desenvolvimento deste projecto, é conveniente que façamos uma pesquisa no sentido de perceber o que é, na realidade, a comunicação visual através do trabalho da letra.



























terça-feira, 23 de março de 2010

As "letras" da comunicação visual

Quando queremos comunicar, quer seja verbalmente, quer seja visualmente, temos em consideração uma série de elementos que, ora individualmente, ora combinados, dão origem a composições que transmitem a nossa mensagem. Às vezes uma frase, outras vez um conjunto delas; uma palavra, uma letra, uma interjeição, um mero ruído... Cada uma destes elementos básicos da comunicação verbal/escrita funcionam como veículo de expressão. Também na comunicação visual se podem destacar uma série de elementos básicos, a partir dos quais se estruturam as mais variadas composições. "Sempre que alguma coisa é projectada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos"(Ref. 1): o ponto, a linha, a forma, a direcção, a tonalidade e a cor, a escala, o movimento, o volume e perspectiva - dimensão, a textura. Ainda que poucos, estes elementos, que constituem a substância básica daquilo que vemos, são a matéria-prima de toda a informação visual.

O ponto é a unidade básica da comunicação visual. É o elemento mais simples. A forma arredondada é a forma mais comum na natureza. Quando qualquer material líquido é vertido sobre uma superfície, assume uma forma arredondada, mesmo que esta não simule um ponto perfeito. Um círculo simboliza perfeição e igualdade espiritual. Tudo é igual em relação ao seu centro: não há nada mais alto ou mais baixo, ou à esquerda ou à direita de algo.

Quando fazemos uma marca pensamos nesse elemento visual como um ponto de referência ou um indicador de espaço. Qualquer ponto tem grande poder de atracção visual sobre o olho.
Por outro lado, dois pontos são instrumentos úteis para medir o espaço. Desde cedo aprendemos a usar o ponto como sistema de indicação. Quanto mais complexo um projecto visual, mais pontos utilizamos como referência espacial.
O conjunto de pontos é capaz de direccionar o olhar e nos criar a ilusão de tonalidade ou cor.


GEORGE SEURAT - SEINE AT GRANDE JATTE

Esta capacidade de conduzir o olhar é intensificada pela proximidade dos pontos. Quando eles estão tão próximos entre si que não é possível identificá-los individualmente, o conjunto de pontos transforma-se num outro elemento visual: a linha.
A linha é um ponto em movimento. Fazer uma linha consiste, no fundo, em arrastar um ponto segundo uma determinada trajectória, de modo a criar uma nova imagem, um nova mensagem. Ela é, portanto, em toda a sua natureza, um elemento inquieto, nunca estático, com imensa energia. A linha permite a concretização daquilo que arquitectamos na nossa imaginação e por ser linear e fluída reforça a liberdade de expressão. Por outro lado, a linha é decisiva, tem um propósito e direcção, faz algo de definitivo.
"A linha, assim, pode ser rigorosa e técnica, servindo como elemento fundamental em projectos diagramáticos de construção mecânica e de arquitectura, além de aparecer em muitas outras representações visuais em grande escala ou de alta precisão métrica. Seja ela usada com flexibilidade e experimentalmente, ou com precisão e medidas rigorosas, a linha é o meio indispensável para tornar visível o que ainda não pode ser visto, por existir apenas na imaginação." (Ref. 1)

A linha descreve uma forma. Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma. Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem as suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através das nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas.
Ao quadrado associam-se a honestidade e a rectidão; ao triângulo a acção, o conflito, a tensão; ao círculo a perfeição, a protecção. Todas as formas básicas são figuras planas e simples, fundamentais, que podem ser facilmente descritas e construídas.

Todas as formas básicas expressam três direcções visuais básicas e significativas: o quadrado, a horizontal e a vertical; o triângulo, a diagonal; o círculo, a curva. Cada uma destas direcções tem um significado e é importante para a criação de mensagens visuais. A direcção horizontal/vertical traduz estabilidade; a diagonal, pelo contrário, faz referência à instabilidade; a curva, por sua vez, como aliás já foi aqui explicado, remete para a abrangência, a perfeição e a repetição.

Tudo o que vemos é condicionado pela presença ou ausência de luz e, como esta não se irradia com uniformidade no meio ambiente, recebemos a informação visual de diferentes tonalidades e cores. "Na natureza, a trajectória que vai da obscuridade à luz é entremeada por múltiplas gradações subtis, que são extremamente limitadas nos meios humanos de reprodução da natureza, tanto na arte quanto no cinema." (Ref. 1). Só na Natureza podemos observar a tonalidade como ela é: condicionada pela verdadeira luz. As representações gráficas são meras simulações que ficam muito àquem da diversidade dos tons e cores naturais.
A tonalidade é um importante instrumento de reprodução das dimensões. A linha, usada em perspectiva, é o principal método de criação de dimensões, mas ela, por si só, não dá a ilusão conveniente da realidade - o tom é o elemento adicional que confere credibilidade à mensagem dimensional.
Existem três cores primárias: amarelo, magenta e azul. Cada uma apresenta qualidades distintas e pode ser associada a uma série de concepções: o amarelo é a cor mais próxima da luz, do calor; o vermelho é a cor activa, a mais emocional; o azul é a cor fria, passiva, a mais suave. Quando estas cores são sujeitas a combinações e misturas, dão origem a novas cores, com novos significados, novas representações da realidade.

Uma cor pode ser brilhante ou apagada, uma tonalidade pode ser escura ou mais clara, "o grande não pode existir sem o pequeno" (Ref. 1) e é no seguimento desta ideia que surge um outro elemento: a escala. A escala pode ser estabelecida não só através do tamanho do objecto, mas também da sua relação com o campo visual. Este elemento tem como base a proporção: quer entre os objectos representados, quer em relação à realidade.

O movimento, no seu sentido literal, e em termos de comunicação visual, só existe no cinema ou na televisão. Um quadro ou uma fotografia são estáticos. Contudo, o artista pode criá-los de maneira dar a ilusão de movimento. A Natureza é movimento constante e, como tal, a nossa percepção das representações dessa realidade leva-nos a identificar esse movimento natural, mesmo naquilo que é estático.

Tudo na comunicação visual depende da ilusão. Através da linha, cor e tonalidades, como já referi, criamos a ilusão de volume, prespectiva, a noção de dimensão. A dimensão existe no mundo real, mas tal como todos os outros elementos, ela não passa de uma ilusão nas representações gráficas de comunicação visual. O artista recorre aos elementos básicos mais simples e constroi mensagens complexas que levam a nossa imaginação a ver mais do que linhas e traços simples sem significado.

Os nossos sentidos são captados por estes elementos e transportam-nos para a realidade da mensagem. A textura é o elemento que, frequentemente serve de substituto ao tacto. A nossa visão capta as diferentes texturas e associa-as a texturas reais, presentes na memória, atribuindo-lhe um forte significado associativo. "O aspecto da lixa e a sensação por ela provocada têm o mesmo significado intelectual." (Ref. 1) Ainda assim, esta experiência singular que advém apenas da observação, não se pode considerar objectiva. O julgamento do olho costuma ser confirmado pela mão. "É realmente suave ou apenas parece ser?" (Ref. 1)
A textura reforça a sensibilidade com que captamos a mensagem visual. Atribui-lhe credibilidade, ainda que a experiência táctil não seja completa.

Todos estes elementos são utilizados pelo artista na sua tentativa de representar uma realidade. A frequência dos elementos, a forma como eles são utilizados... tudo são decisões de quem quer comunicar e devem ser tomadas de acordo com a mensagem que quer transmitir. O pleno conhecimento do significado de cada um destes elementos permite um controlo sobre a construção e aquilo que ela transmitirá. Ainda assim, todos somos diferentes e a percepção de cada um dependerá da sua personalidade e das suas sensações.
Uma coisa é comum: a comunicação permite o viver de uma experiência visual. Podemos, se nos permitirmos a tal, entrar no mundo criado pelo artista e descobrir cada detalhe daquilo que compôs. A arte é um bem. Ela é o caminho para o desenvolver da nossa criatividade, quer de criação, quer de percepção.

REF. 1 - DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 51-83

terça-feira, 16 de março de 2010

De palavras a imagens

Ideias? Bastante definidas (talvez até demais!). Meios? Os melhores. Vontade de ver a nossa realidade representada no papel? Inquestionável!

Faltava-nos a capacidade de execução.
Quando digitalizámos o desenho anterior sabíamos exactamente o que havia a fazer: criar um cenário, torná-lo quente; trabalhar os diversos elementos segundo a sua importância; dar destaque à Mulher. A primeira coisa que conseguimos concluir foi a composição das portas de saloon. Decidimos que queríamos inserir um novo elemento - a borboleta - que, colocada nas portas, seria o indício de que algo forte, bonito e sensual se passaria no interior daquele espaço. Procurámos uma imagem e acabámos por encontra uma que, para além de conter a figura que desejávamos, tinha um padrão, de cores quentes e fortes, que estava de acordo com a nossa perspectiva.



Para reforçar o simbolismo, escurecemos a porta e iluminámos a forma da borboleta.

A composição estava incompleta. Não havia chão, nem paredes, nem luminosidade, nem contrastes. Só umas portas bem estruturadas.
Com a ajuda da professora percebemos que o nosso bloqueio prático se devia à falta de liberdade de pensamento: tínhamos uma imagem final perfeitamente concebida e, à medida que íamos falhando na sua execução, - ou porque não usávamos a textura correcta, ou porque nos parecia infantil cada montagem feita - íamos perdendo capacidade de superação. Com o padrão da dita imagem das borboletas compusemos o chão e as paredes, com diferentes tonalidades entre si para dar a noção de espaço e sombra: O chão com tonalidades mais frias (para que a Mulher pudesse ser ainda mais realçada); a parede que se aproxima, mais escura (para ser perceptível o "movimento" e direcção da mesma).
Quanto aos restantes elementos, explorámos o seu significado na nossa mensagem e, dessa forma, apresentámos o gato com contrastes simples e de cor branca - mero objecto da composição -, e a Mulher com especial destaque conseguido através de contrastes, cor branca iluminada por cores quente, cabelo trabalhado em tons de vermelho e amarelo - força maior deste pequeno Mundo.



Desenho

O rascunho não passava de um conjunto de traços mal feitos que procuravam, quase desesperadamente, representar uma ideia. Tentámos tornar esses traços mais definidos e desenhar a base da nossa composição. Escolhemos incluir três elementos que consideramos cruciais para a construção da nossa mensagem: as portas de saloon, como alusão ao México no sentido de localizar e criar a imediata sensação de ambiente seco e quente; o gato, representado apenas parcialmente, como simbologia àquilo que é escrito na letra, se entendida literalmente - o gato, dono do bar, um homem, género principal na história narrada; e a Mulher, personagem principal deste conteúdo, pelo menos segundo a nossa interpretação.

sábado, 13 de março de 2010

Rascunhos

A música, como tantas outras (senão todas) formas de arte, tem uma particularidade admirável que é a de ser capaz de nos fazer sonhar. À primeira nota ou à primeira palavra reagimos a um impulso e fechamos os olhos. Fechamos os olhos para o nosso mundo e deixamos que a nossa imaginação e criatividade nos levem para as mais diversas realidades.
A Down in Mexico tem uma letra que não desperta o interesse de todos. É uma descrição simples de um lugar e das pessoas que por lá passam. A sua beleza está na combinação da letra com a melodia. Quando a ouvimos, somos imediatamente transportados para um ambiente de cores escuras, ainda que disfarçadas com traços de vermelhos e amarelos. À medida que a história se vai desenrolando, vão surgindo elementos que alteram o ambiente. De todos eles, a mulher é o elemento mais forte. Nesta narrativa, que conta o serão de um homem que se quer divertir num bar do México, cujo dono é um gato, é a personagem da Mulher, que no fundo surge como secundária, que traz luz ao cenário e intensifica a componente os tons quentes que desde início se anuncia.
O nosso objectivo, perante esta primeira proposta de trabalho, é representar exactamente isso: a força, beleza e sensualidade da Mulher.
Tivemos algumas dificuldades iniciais, porque não conseguíamos decidir qual a melhor forma de estruturar a composição: se com base em desenhos feitos por nós, se recorrendo a imagens.
Por sugestão da professora optámos por desenhar parte da estrutura. Como não temos formação a esse nível fizemos um rascunho inicial que serviu para posicionar os elementos da nossa composição.

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